terça-feira, 10 de novembro de 2009

Retrato popular.


Caminho em baixo do telhado do céu. O sol esquentando meu cérebro fervendo de pensar em alguma solução. Pro dinheiro no meu bolso entrar e alimentar quem caminha atrás de mim. Uma magra mulher com sandália no pé, carregando uma parte de mim em seus braços. Mais estica o zoom da luneta do olhar, que tu percebe como a seca barriga tem roubado a inocência. Me causa até revolta. Seca a garganta, seco o cérebro. A pele cobre os ossos, só resta a barriga vazia desse povo sofredor. Que pede ajuda. Carrega vento na sacola, a água que refresca minha testa, tem nome de suor. Tem calma minha gente, a comida vai chegar, a água vai molhar a garganta e quando a noite chegar no papelão vamos deitar. Oito almas vão descansar.

Texto: Deco
Foto: Daniel Feijó.

2 comentários:

  1. Um olhar vago sobre uma cidade com tantas diferenças seria uma forma de cegueira da humanidade em nós.
    Fotos de monumentos mostram coisas muito belas, assim como cartões postais, mas isso é apenas uma pequena parte de uma realidade imensa, com uma parcela cada vez maior de dor e sofrimento de pessoas que não foram favorecidas pela sociedade.
    Sociedade que se guia por um conjunto de leis que compõem uma constituição federal.
    Constituição que no Art. 3º do TÌTULO I - que trata “Dos Princípios Fundamentais” – diz o seguinte:
    - Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
    I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
    II - garantir o desenvolvimento nacional;
    III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
    IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
    E há também o clássico artigo que está no TÍTULO II, “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, Capítulo I, que trata Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos:
    Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

    E é isso que se vê?
    Não, ninguém é tão cego. Alguns quase, mas essas são apenas leis, a humanidade é muito mais que isso. Nós somos. Cada um de nós.
    “A verdadeira riqueza do homem é o bem que ele faz ao seu semelhante.”

    Imaginem se houvesse também alguns cartões postais assim. Poderia até ter algo escrito. Será que “Venha praticar sua humanidade” seria uma boa frase para campanhas de turismo?
    Acho que não.
    Um número muito grande pessoas tem medo de abrir os olhos.
    “Mas qual seria a característica humana mais fundamental, o medo ou a preguiça?”

    (citação final tirada do filme “Waking Life”)
    (trechos da constituição tiradas do site do senado federal)

    Thiago Ferreira

    ResponderExcluir
  2. Os corpos passam ao nosse redor o tempo todo.
    Toda hora esbarramos nessas pessoas, que estão invisíveis para a sociedade alienada, onde a mesma já nem lembra mais que são seres humanos, que sentem fome, frio, que sofrem e amam. Caminham descalços, com os pés calejados no chão. Na cabeça e no peito levam a loucura e a fé, que é onde se apoiam e depositam suas chances de sobrevivência.

    Camylla Moury.

    ResponderExcluir